qua, 15 de junho de 2022
Após nove anos esperando a ordenação como padre da Igreja Católica, Djalma Júnior decidiu jogar luzes sobre tudo o que passou nesse período que viveu no Seminário São Pedro, em Natal.
Em entrevista exclusiva concedida ao Blog, o seminarista revelou que foi assediado pelo Dom Jaime, após ter sido convocado para falar de casos de religiosos responsáveis pelos religiosos do Seminário. “No escritório dele, Dom Jaime me assediou. Pegou nas minhas partes íntimas. Posteriormente isso continuou por telefone e no Whatsapp”, revelou.
O caso não parou por aí. Segundo Djalma Junior, o problema continuou numa viagem da igreja as águas do Rio São Francisco. “Quando cheguei ao final do meu seminário, sem nenhum problema moral, o reitor, acobertando toda essa situação, disse que eu não tinha vocação e me mandou embora”, relembrou.
Djalma Junior revelou ainda que ainda tem sido tratado por psicólogos e psiquiatras e o processo para ordenação dele estavam com Padre Júlio Cezar, o mesmo que foi afastado semana passada após ser revelado um caso com um homem casado. “O próprio Padre Júlio também me assediou”, contou.
Denúncia contra o Arcebispo de Natal traz crimes “nada santos”
Três dos principais nomes da Arquidiocese de Natal são alvos de denúncia feita por um ex-seminarista que quer levar isso ao conhecimento de Dom Giambattista Diquatro, que é o núncio apostólico (espécie de embaixador do Vaticano) no Brasil.
O documento ao qual o blog teve acesso aponta vários casos de assédio e importunação; relacionamento amoroso de um padre com funcionária da cúria metropolitana de Natal; e se diz perseguido pela direção do Seminário de São Pedro.
A denúncia cita o arcebispo metropolitano, Dom Jaime Viera Rocha; o vigário Geral da Arquidiocese de Natal, padre Paulo Henrique da Silva, reitor do Seminário de São Pedro da Arquidiocese de Natal, e o padre José Valquimar Nogueira do Nascimento.
O denunciante relata que “diante dos últimos fatos trágicos, dramáticos (…) recorro a este órgão [Nunciatura Apostólica] como último meio para a resolução desta problemática (…) bem como buscando a resolubilidade das ações maléficas realizadas pelos supracitados senhores, que lesaram a minha integridade moral, física, psicológica e principalmente a espiritual, meu maior bem”.
Nas próximas postagens, vamos detalhar alguns dos trechos da denúncia.
Denúncia será feita ao “embaixador do Vaticano” no Brasil
A denúncia que envolve o arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, feita pelo seminarista Djalma Feliciano Ferreira Júnior está fundamentada em dois crimes: assédio sexual e importunação sexual.
A carta denúncia contra ele está prestes a ser enviada a Dom Giambattista Diquatro, que é o núncio apostólico (espécie de embaixador do Vaticano) no Brasil.
Em um dos trechos, o denunciante disse que Dom Jaime fez o seguinte questionamento: “Se o pé for do tamanho do pau? Referindo-se ele ao tamanho do meu pênis”.
Segundo o seminarista, em 2016, “após a celebração da Santa Missa na intenção das vítimas da violência em Natal/RN, ocorrida no dia 29/01/2016, na Catedral Metropolitana de Natal, presidida por Dom Jaime Vieira Rocha, fui convidado pelo mesmo arcebispo para jantar na residência episcopal e ter uma conversa privada sobre o Seminário de São Pedro”.
“Durante a conversa com o arcebispo eu permaneci calado, escutando as orientações e as acolhendo, tendo em vista que eu estava tendo a honra de ser convidado pelo arcebispo para ser orientado pelo mesmo. Durante o diálogo, que se prolongou por mais de uma hora, Dom Jaime começou a enaltecer minhas qualidades e bater nas minhas pernas com uma das pernas dele. Inicialmente eu pensei que era uma brincadeira, mas, depois eu tive a iniciativa de afastar a cadeira, uma vez que estávamos de frente um para o outro, e cruzei as pernas”, contou na denúncia.
Em seguida, dom Jaime teria feito a colocação a respeito do pênis do seminarista comparando-o ao tamanho do pé. “Na hora eu não entendi por qual motivo Dom Jaime estava tendo tal comportamento. O arcebispo começou a me tecer elogios novamente, dizendo: “Homem forte de Brejinho, da terra das mandiocas grandes, homem das costas largas, aguenta muita coisa, seja firme na vocação”.
E continua a narrativa: “Bateu no meu ombro e foi descendo a mão em direção ao meu pênis, apalpando o mesmo. Eu fiquei de pé e disse que estava na hora de descermos para jantar”.
O seminarista relatou, em sua denúncia, que “durante o jantar com o arcebispo, eu busquei interagir para retirar a tensão, e até consegui, entretanto, por algumas vezes eu sentia por debaixo da mesa uma perna que entrava em atrito levemente com a minha perna. Era novamente Dom Jaime me importunando”.
Dias após o fato, ele disse que “a imagem do arcebispo ficou decaída. Durante a Missa, na oração pela Igreja, quando se falava o nome do bispo eu tinha repulsa. Foram dias de tormenta interior”.
Em sua denúncia, ele narra que procurou “uma pessoa muito sábia” para se confessar que, segundo o denunciante, é “uma alma dotada de sabedoria e piedade que residia no Seminário [São Pedro] por ser idoso e por força da função”.
O seminarista revelou que “ele deu bons e valiosos conselhos, pediu que eu rezasse pelo bispo e que se eu desejasse ser padre, eu deveria aguentar, e que muito provavelmente eu iria sofrer outros assédios desta natureza por parte de clérigos, tendo em vista que eu era um rapaz bem apanhado, e que, quem tinha esta fraqueza, este desvio moral, muito provavelmente iria ‘dar em cima de mim’, mas, que eu não me deixasse abalar, que eu não me envolvesse com estas pessoas que tinham tal prática abominável e que eu prosseguisse firme, rezando”.
Mas ao que parece as coisas não melhoraram.
“Com o passar dos dias, novamente o arcebispo veio falar comigo ‘dando cantada’, por mensagens no Whatsapp. Desta vez eu me abri com alguns colegas de minha turma de seminário. (…) Por telefone, entrei em contato com o aludido sacerdote, que prontamente me atendeu, reprovou a atitude do arcebispo veementemente, e me garantiu conversar com o arcebispo pessoalmente.
“Com o tempo, eu fui amadurecendo e aprendendo a me esquivar destas pessoas que realizavam estas práticas. Infelizmente por repetidas vezes eu continuei a sofrer tais assédios pelo mesmo arcebispo, com menos intensidade”, declarou.
A carta-denúncia traz ainda um relato de 2016 quando “houve uma importante atividade encabeçada por Dom Jaime, denominada “Romaria das águas”, de caráter Socioambiental dos bispos do Regional Nordeste II”.
“Ao retornamos de Salgueiro/PE para Natal/RN, Dom Jaime exigiu que eu o acompanhasse no ônibus, e sentasse ao seu lado. Fiquei novamente com medo, pensando qual seria a intenção dele. Com um olhar miudinho e sorridente começou a brincar na gente dos outros bispos para desfaçar.
Ele desabafou que “a palavra que resume meu sentimento pelo arcebispo de Natal decepção, profundíssima decepção. Ele me fez ver um lado que eu não conhecia da Igreja, plantando em meu coração uma frustração, decepção, e as vezes até medo”.
“Me deparo com o lado mais podre da igreja”, revela seminarista em denúncia
Em sua denúncia, o seminarista Djalma Feliciano Ferreira Júnior narrou que “ao chegar no seminário eu me deparo com o lado mais podre da Igreja, e o pior, tudo patrocinado por quem deveria salvaguardar a Igreja e o rebanho: o arcebispo, o guardião da fé. Na verdade, o usurpador da fé, o lobo, o detrator da fé”.
O denunciante revela que “o mesmo arcebispo [Dom Jaime] fez um trato comigo, visando o guardar meu silêncio, propondo-me a ‘ordenação sacerdotal’, se eu seguisse os passos que ele orientaria”.
Mas o combinado parece que ia sair caro. “Esta conversa ocorreu logo após a Missa no dia 29/12/2019, na Igreja catedral, no coquetel do aniversário de instalação da paróquia da catedral. Desde tal dia, nunca mais tive paz em nenhum aspecto. Cada vez que uma iniciativa foi feita pelo arcebispo um problema foi gerado, e eu, cada vez mais sendo exposto ao ridículo na arquidiocese e perante a sociedade. Tudo o que construí desde o primeiro dia de seminário foi sendo depredado paulatinamente, minha vocação sendo totalmente destruída”.
O ponto alto, segundo ele, foi “a minha vergonhosa saída da paróquia de São João Batista em Pendências/RN, no dia 25 de dezembro de 2021, quando o arcebispo determinou o fim do suposto estagio pastoral que eu estava fazendo em vista da minha ordenação presbiteral”.
Djalma Júnior contou que “foi um escândalo público na noite de Natal. O povo ficou todo sem entender o que estava ocorrendo. Eu também fiquei sem entender, mas no fundo do meu coração eu estava prevendo tudo o que estava para acontecer”.
A denúncia narra que “no dia 29/12/2021, no Gabinete do arcebispo, houve uma reunião com a presença dos senhores Pe. José Sílvio de Brito, Vigário Episcopal para o Clero da arquidiocese de Natal, o Diác. Manoel Teixeira da Silva, Assessor Jurídico da arquidiocese de Natal o arcebispo e eu. Pensando em realizar uma intimidação à minha pessoa e causar pressão psicológica, o arcebispo pensaria que eu iria me intimidar, mas tudo foi ao contrário. Todos os envolvidos na situação ficaram praticamente calados. Na reunião eu fui comunicado que eu não seria ordenado e que eu esperasse pelo próximo arcebispo, pois, na atual conjuntura não seria possível. A reunião está toda gravada e durou quase uma hora”.
“Hoje não consigo entrar mais em uma Igreja para participar da santa Missa. E pensar que eu cheguei a participar de 5 Missas em um final de semana ajudando os padres de minha paróquia ou da Pastoral”.
Na denúncia enviada à Nunciatura Apostólica, ele solicita a Dom Giambattista Diquatro, “que na qualidade de Núncio Apostólico no Brasil tome as providências cabíveis em tempo hábil sobre este assunto que são de natureza grave e exigem uma séria apuração dos fatos”.
“Conto com a diligência de vossa excelência, a apuração séria e a punição dos envolvidos nesta problemática que infelizmente está se tornando uma prática comum na Igreja, que fere a natureza e a seriedade da fé”, concluiu.
“Seminário de São Pedro se assemelha a um prostíbulo”, afirma seminarista em denúncia
A denúncia feita pelo seminarista Djalma Feliciano Ferreira Júnior escancara situações ocorridas na Arquidiocese. “O seminário de São Pedro se assemelha a um prostíbulo com hora marcada para rezar”, afirmou.
Ele afirmou que “Pe. José Valquimar [reitor do Seminário São Pedro] não tem moral nem muito menos capacidade de pastorear, de dialogar, nunca assumiu uma paróquia para aprender a conviver, e nem sequer é da arquidiocese de Natal, ele é da Diocese de Caicó/RN”. “E o mais engraçado, o reitor quer ser bispo. Palhaçada”, desabafou.
E continua: “Que ele retorne para o sertão de Caicó. Espero que estes homens sejam afastados de suas funções e punidos, para que o mal não se alastre e venha a denegrir a imagem da Igreja de Natal mais do que já está”.
Djalma Júnior pede que “salve as vocações”. “Temos alguns poucos jovens bons e sérios, mas eles estão submersos em uma comunidade depravada. Não escrevo esta carta com alegria, mas com profunda tristeza, pois sou católico, tenho uma fé alicerçada na tradição dos meus antepassados, que me transmitiram a fé. Por favor, faça alguma coisa pela Igreja particular de Natal, pelo bem dos fiéis e de toda a santa Igreja”.
O “não posicionamento” da Igreja Católica
Deste a segunda-feira (13), o Blog entrou em contato com a Igreja Católica em Natal. Foi marcada uma reunião com o Arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, para às 15h. Porém, 30 minutos antes do encontro, entraram em contato pedindo para não ter o encontro. Diante da gravidade das acusações, no entanto, o Blog solicitou para a Arquidiocese mandar uma resposta sobre as acusações gravíssimas. O Blog enviou os vídeos, o texto para a Igreja e, apesar de dizer que estão finalizando o texto, até as 17h, não enviaram obtivemos nenhuma resposta. O Blog ainda tem posse de prints, audios, gravações de conversas… Tudo é muito nebuloso. Esperamos, sinceramente, que o Arcebispo Dom Jaime responda os questionamentos feitos para a sociedade. Na hora que a Curia, a Igreja Católica ou o Arcebispo enviarem as respostas, daremos o mesmo destaque para a versão.
Fonte: Portal do Seridó 360