qui, 30 de janeiro de 2025
Por: Magno Martins
Em um movimento político explícito e sem disfarces, a governadora Raquel Lyra (PSDB) nomeou, ontem, com uma só canetada, 22 ex-prefeitos como assessores especiais da Casa Civil. Na prática, o maior trem da alegria da história entre todos os chefes de Estado que já bateram ponto no Palácio do Campo das Princesas. Nem na ditadura, quando os favorecimentos e os privilégios eram tão usuais, nunca se viu nada igual.
Trata-se da maior e mais escancarada sinecura (emprego bem remunerado sem precisar bater ponto) do País. Quem vai pagar a conta, claro, é o contribuinte pernambucano. A farra vai representar R$ 168 mil por mês aos cofres públicos e, até 2026, ultrapassará a bagatela em torno de R$ 4 milhões. Raquel adoçou as bocas dos ex-prefeitos sem nenhum critério. Até quem apoiou candidatos rejeitados pelo eleitorado nas eleições do ano passado ganhou uma “boquinha”.
Como é o caso, por exemplo, do ex-prefeito de Araripina, Raimundo Pimentel (Podemos), cujo grupo político sofreu uma acachapante derrota nas eleições municipais para o prefeito Evilásio Mateus (PDT), seu ex-vice-prefeito, com quem rompeu para apoiar a candidatura da vereadora Camila Modesto (Podemos). Também entre os “escolhidos a dedo”, o ex-prefeito de Águas Belas, Luiz Aroldo, do PT, certamente na tentativa de agradar uma corrente petista.
Com isso, Raquel reforça a estratégia da tucana de ampliar sua base política visando a reeleição, mas, em contrapartida, expõe o distanciamento entre as promessas de uma gestão técnica e ética com a realidade de um governo que vem tropeçando nas ações e na avaliação da opinião pública. No desespero, passa a impressão de que recorreu ao mais nefasto e repugnante fisiologismo para garantir apoios à sua reeleição.
A lista de beneficiados contempla ainda o Professor Lupércio (PSD), ex-prefeito de Olinda, e Nadegi Queiroz, ex-prefeita de Camaragibe, que se mantêm no poder porque elegeram aliados. Nadegi, especialmente, elegeu uma filha vereadora do Recife, já tendo um filho deputado estadual. Entre os que fracassaram como cabos eleitorais, a ex-prefeita de Ipojuca, Célia Sales (PP). O peso eleitoral de cada um, ao que tudo indica, vale, naturalmente, mais do que qualquer critério técnico.
Entre os nomeados, nove ex-prefeitos assumem como assessores especiais de relações institucionais, oito ficam com a articulação e acompanhamento, e cinco alocados na coordenação estratégica. No entanto, a despesa gerada não é pequena. Se a governadora mantiver essa estrutura até o final do mandato, o custo total ultrapassará R$ 4 milhões, valor que ajudaria muito a melhorar a estrutura dos hospitais estaduais, que agonizam.
A decisão ocorre no momento em que a gestão enfrenta uma onda de críticas pela falta de investimentos estratégicos, falta de entregas à população nas mais diversas áreas e pela crise instalada na Educação, onde não há sequer um secretário titular no comando. Além disso, a governadora precisa lidar com questionamentos sobre a real efetividade desses cargos, que, na prática, servem apenas para acomodar aliados e garantir suporte político nos municípios. A ofensiva dela contrasta com o discurso que adotou ao longo da campanha e nos primeiros meses de Governo. Raquel prometeu uma gestão técnica, baseada na meritocracia, mas, na prática, segue o velho modelo de loteamento de cargos para aliados. O mais curioso é que, enquanto reforça o palanque, a tucana se mantém distante das demandas mais urgentes da população.
Ismael Paulo
Portal colinas do agreste em, 30/01/2025
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